Declaro-te culpado
Te coloquei lobo
Forjando uma chapeuzinho que nunca fui
Covarde, sim hipócrita que sou,
Com covardia agi
E, desesperadamente, fugi
Vestindo, todos os demônios
Que no mundo há, em ti
Mas o fugir também não podia vesti-lo em mim
Tornar-te algoz foi o caminho que escolhi
A ti, inocente do caos que habita em mim,
Dum canalha cruel travesti
Transformei teu samba torto
Em defeito, fiz ver-se bobo
Tua enciclopédia, dela me ri
Anjo decaído foi a capa que escolhi
Pra te vestir
Tormentas te infligi
Pra você, de mim, fugir
Hipócrita, sei que sou,
A mim cabem todos os enxovalhos!
Venham a mim todos os culpados,
Que faço parte, os sei servir
Tuas músicas, tua dedicação,
A tudo transformei em abominação,
Para que dela sentisse culpado
Teu afeto o fiz ver como defeito
Me fiz intragável
Para que, de mim, fugisse
Assim, de lobo, pude te vestir
Tuas mordidas de lobo,
As tornei ferretes
Como que com gado disse que fizeste,
Tudo para que fosse culpado
Hipocrisia aqui estou,
Lha pertenço, fato,
Pois até do teu espaço te fiz culpado
Quando, enfim, da confusão
Te fiz companheiro,
Ali sim foi meu agrado
Quando a inquietude e embaraço
Chegaram, então, ao teu encalço,
Minha cena concluí
E, finalmente, me satisfiz
Esteve formado, então, meu teatro
Pitoresca cena deste quadro
Quando, enfim, parte
E digo que, de mim, fez regaço
Não é anjo, nem Santo,
Porém, verdade, aqui ninguém foi culpado
Aline Fernanda
Enviado por Aline Fernanda em 18/01/2021
Alterado em 19/01/2021